Flanando por aí

Uma profecia que se cumpriu – Por Ronaldo Ruiz Galdino

Quando eu era adolescente, a internet estava se popularizando. Ouvia muitas pessoas falando que tudo no futuro seria feito pelo computador. Iríamos trabalhar e comprar sem sair de casa. Eu ficava imaginando ruas desertas, todo mundo dentro de casa, saindo poucas vezes para o ar livre. No meu íntimo, esse cenário suscitava uma pontinha de medo.

E eis que estamos agora em 2022 comprando pela internet e trabalhando via home office. Essa mudança de hábitos, que já era uma tendência, foi acelerada pela pandemia da covid-19.

Dias atrás, fiz uma transação bancária do meu celular, deitado na minha cama, ouvindo a chuva cair lá fora. Foi tudo tão rápido e simples. E seco. Fiquei muito satisfeito quando terminei. E olha que a tecnologia costuma me irritar mais do que agradar. “Nunca mais vou ao banco”, pensei.

Mas isso também me fez refletir sobre como a tecnologia e o progresso estão tornando nossas relações cada vez mais impessoais.

É claro que a internet aproximou muitas pessoas, promoveu reencontros, nos trouxe novos amigos, encurtou distâncias. Isso é ótimo. Porém, ainda se trata de um contato virtual, sem calor humano.

Não existe mais aquela conversa, por exemplo, com o dono da venda, como nos antigos bairros rurais. Raramente, a gente fala com a caixa do supermercado nos poucos minutos em que ela passa a nossa compra. Hoje, alguns hipermercados têm até mesmo caixas totalmente automáticos.

Não conversamos mais com a telefonista. É um robô que vai pedindo para respondermos apertando botões.
E as praças dos bairros, onde as pessoas se reuniam para o lazer e para conversar, estão vazias e se deteriorando. Foram substituídas pelos shopping centers. Não me entenda mal, eu também adoro passear no shopping. Mas lá é um lugar para se fazer compras. Conversamos apenas quando comemos rapidamente um fast food na praça de alimentação (será que tem esse nome de “praça” por esse momento de interação?).

Será que o progresso vai nos isolar ainda mais? Vai nos empurrar de vez para o individualismo? Fará a gente a acreditar que de fato o egoísmo é uma virtude?

Acabei voltando a fazer especulações sobre o futuro. Acho que não vou ter as respostas por enquanto. Bom, sei apenas que, realmente, não pretendo ir outra vez ao banco tão cedo.

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