Lembro bem, quando criança, de alguns apelidos que criávamos, e graças ao arquivo que fica no Universo, que uns dão o nome de Arquétipo, os vejo repetidos, inclusive em nossa cultura popular.

Tinha uma tal de “tiririca”, menina feinha, coitada (nossa! se publicasse esse artigo no Facebook receberia um gancho de pelo menos 30 dias – pois seria considerado preconceituoso), que ficava no pé de todos os garotos da vila, mas não tinha um que se atrevesse a pelo menos dar uma de “ficante” com ela (deixo bem claro que naquele tempo esse termo nem existia).

Você sabe, né, que em toda turma de moleque sempre há aquele que gosta de aproveitar-se do silêncio momentâneo para mostrar-se, e era mais um pum daqueles bem fedidos. A esses nominávamos de “catinguele”.

Todo mundo (não me venha dizer que sou um bocudo por abordar isso), quando está no íntimo de suas verdadeiras relações e, provocado, irritado, perde a linha e manda a pessoa tomar naquele lugar. Naquele tempo de molecada, quando isso ocorria na presença de adultos, ou, para não levarmos uns sopapos, dizíamos, “vai tomar no biricutico”.

E assim por diante…

Tirante todos os apelidos que surgem, principalmente quando o “felizardo” fica bravo pela alcunha, vou ater-me ao mundo das “ciperáceas” (não pense você que sou tão culto assim para saber esse nome estranho, hoje existe o “santo” Google, que nos socorre nos momentos de ignorância).

Não há mais irritação para quem tem um pedacinho de terra em casa, no rancho à beira do rio, numa chácara ou até mesmo fazenda, do que notar o nascimento daquele matinho verde – lindo de se ver, dá até vontade de comer-, mas que é uma praga que nem galinha de Angola acaba.

Desconheço nesses meus 70 anos bem vividos, uma seca tão terrível, intensa e longa como ocorreu neste ano de 2021. Vez ou outra, fazia a irrigação artificial das “minhas terras” – um terreno de 13 x 23, ao lado de nossa casa, cuidando sempre para não consumir muita água, em respeito a outros irmãos, em cujo bairro onde moravam, o líquido precioso não chegava nem para lavar as partes mais íntimas.

Regava o chão batido com muita esperança, quase fé, que nasceria tiririca, ou um matinho qualquer para que eu pudesse comemorar o verde que existia em abundância no meu “latifúndio”. Cheguei até a comprar uns fogos de artifícios numa loja vizinha à minha casa, para soltar todo garboso, quando pintasse a primeira danadinha!

Nunca uma tiririca, nem que fosse um único pezinho para remédio, foi tão ansiada e desejada como neste período de seca. Juro, cheguei até a rezar para a “santa” tiririca – aquela pobre jovenzinha que citei no segundo parágrafo deste artigo, pois acredito que pela “secura” que passou ao longo de sua vida, deve ter sido beatificada.

Nada dessa amiga tão comum, do dia a dia, que nos acompanha nos momentos de alegria, de tristeza, na pobreza ou na riqueza chegar…

O terreno ao lado da nossa casa ficou mais careca do que o personagem Zacarias do antigo e famoso grupo “Os Trapalhões”.

Vou confessar um outro momento que passei, muito íntimo, poucos gostam de falar a respeito, que é a ausência passageira do estado total de saúde. Um sentimento começou a tomar minha mente todos os dias: — O que será que fiz de tão mal assim no mundo, para não merecer um pé de tiririca sequer na minha propriedade rural? Até consulta com um psiquiatra cheguei a marcar, imaginava que se tratava de depressão.

Pensei em conversar com o pároco local, sugerir a ele uma procissão em todas as ruas da cidade, para que recebêssemos uma chuva atemporal, e assim aparecesse a fatídica da Tiririca!

Não deu mesmo, vi o outono ir-se, chegar a primavera e, com ela, o círculo natural das chuvas, para finalmente surgir a tão aguardada, querida e bendita tiririca.

Foi uma festa! Finalmente a grande explosão dos fogos. De tão velhos que estavam corri o risco de perder um dos dedos e, ficar famoso, igual àquele político, o mais honesto de todo o planeta!

Prometo, minha querida amiga de todas as horas, que deste ano em diante não ter mais desprezo por você, pelo contrário, a cultivarei com todo o cuidado, para que nunca me esqueça que é testemunha dos tempos de bonança, e que se um dia sumir do planeta, tal qual as abelhas, não teremos mais nenhum sinal de vida…

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Redação

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