“Você precisa começar a ver o lado bom do ser humano. Toda pessoa guarda dentro de si um lado bom” (Dr. Alexandre Michel Antonio).
Tenho por costume, ao sair de casa, fazer o trajeto que já se tornou tradicional: Ruas Francisco Galindo de Castro, Bandeirantes, Anhanguera e Ribeiro de Barros.
Você poderá indagar: “Mas o que tem de tão especial nessas ruas tradicionais de Birigui?”.
São onde acontecem o último registro da passagem de um indivíduo pelo planeta terra – os velórios ali existentes.
Confesso que no sábado passado, dia 9 de abril, fui tomado por forte comoção que há muito não sentia, ao ler o nome no painel: Dr. Alexandre Michel Antonio.
Numa fração de segundos vieram momentos importantes que vivi nesses meus setenta anos – notadamente na área de política de cidadania-, e em sua maioria tive por perto a companhia dele, com sua experiência, conhecimentos jurídicos e, o principal – seu bom humor.
Quando jovem, temos a mania que eu julgo até idiota, de querer mudar o mundo, atrair para si toda a atenção da “plateia”, para aquilo que em sua ingenuidade, julga ser o melhor para todas as pessoas que fazem parte de sua comunidade.
Fui um desses “meninos” sonhadores, que aos 14 anos escrevi o meu primeiro artigo, ao criticar a forma de gestão do executivo na época, isso na década de 1960 – ou seja, as coisas ruins não são novidades de agora!
Sempre metido à besta – acho que essa “qualidade” perdura até hoje-, eu tinha um faro apuradíssimo, tal qual de minha cachorrinha Meg, e descobria onde estava ocorrendo algum encontro de cidadãos biriguienses, cuja finalidade era a discussão sobre o futuro de nossa querida cidade!
Por incrível que pareça, lá estava ele, com sua característica peculiar, de provocar a todos no sentido de fazerem parte dos debates. Às vezes queríamos colocar algo em prática, mas as leis eram contrárias à nossa “boa intenção”, e o Dr. Alexandre, respeitado por todos por seu saber jurídico, jamais foi aquele de “bater o martelo” e posar-se como o dono da verdade.
Dava a todos, o direito igualitário para que desenvolvessem seu raciocínio, numa prova de respeito à opinião contrária, pois no íntimo sabia o que podia ou não ser colocado em prática.
Jamais nos furtou de sua verve de brilhante orador, quer com seus discursos “inflamáveis”, ou numa cena mais íntima, ao declamar versos que seus amigos lhe pediam.
Tenho orgulho de fazer parte dessa geração de biriguienses – e eram muitos-, que ao receber o convite para um encontro, reunião sem pauta, ou decisão que viesse ao interesse da comunidade, marcavam sua presença. Tenho muito medo de citar nomes, pois a memória pode me trair e não quero cometer quaisquer injustiças.
Todos podiam se ausentar vez ou outra, mas a presença do Dr. Alexandre era sempre aguardada com ansiedade por parte dos demais.
Poucas vezes eu senti vontade de ficar ao lado de uma pessoa em seu ataúde, como aconteceu no velório do Dr. Alexandre. Parecia que me dizia a toda hora: “Olha aí Nalberto, espero que os meus ensinamentos de cidadania, não venham comigo, mas que você siga lutando como sempre fizemos, em benefício da coletividade”.
Esse é o grande legado que esse ilustre biriguiense nos deixará. Não importa quem você seja, sem nenhum título acadêmico, ou com pós-doutorado, gari, colaborador numa indústria, agente do comércio, morador de rua, habitante da maior mansão, empresário, anônimo, ou artista famoso. Para o Dr. Alexandre o que o diferenciará serão os momentos que sair de seu “mundinho” particular, para lutar por uma vida digna a todos.
Muito obrigado, Dr. Alexandre, por essa lição.
Dizem que podemos contar os amigos nos dedos de uma mão, com certeza ele é uma das falanges da minha mão direita, incrustrado osso por osso, sorriso por sorriso e lágrima por lágrima, por sua partida.
P.S: Hoje abri este espaço para prestar homenagem a um grande amigo que se foi. Na próxima semana retomamos nossos conteúdos sobre Coaching.
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