Os Sapatos Adequados… – Por Nalberto Vedovotto
Recebi uma mensagem do meu amigo de infância, Antonio Pontes Neto, com a foto de Charles Chaplin, mas acredito que o dito que a acompanha seja de Yla Fernandes: “No caminhar da vida nem sempre o caminho será leve, mas Deus sempre nos dará sapatos adequados”.
Isso me levou de volta ao passado, lá pelos meus 10, 11 anos de idade.
Confesso que somente tive coragem de abordar esse tema em razão da declaração da atriz Cleo Pires, em seu Instagram, que viveu episódio semelhante, ou seja, que teve chulé em um período de sua vida, que era muito “teimoso”, não saia por nada.
Se ela teve, por que eu, um simples mortal não poderia ter?
Só farei menção a essa parte de minha vida para deixar uma mensagem de otimismo às pessoas, geralmente pobres, que vivem marginalizadas, e que por questão de falta de dinheiro, possam experenciar fatos negativos ao longo de sua vida.
Nesta faixa de idade, passei por esse terrível problema, odor desagradável nos pés, tudo por conta de um sapato de borracha que minha mãe comprara para eu trabalhar, na época, como policial mirim, na Prefeitura de Birigui.
Confesso que era difícil as pessoas ficarem perto de mim por muito tempo, pois o odor já tinha impregnado todo o meu ser, e parecia vazar por todos os poros do corpo.
Reclamava com minha mãe, mas coitada, sem poder adquirir um calçado de couro, ou ignorante, por desconhecer um talco que pudesse solucionar a questão, dizia que era impressão minha, que infelizmente não podia fazer nada, dada à condição financeira da família.
Meu Deus do céu, quanta humilhação, quanta vergonha, quanto buscar sempre o último lugar nas cadeiras da escola, chegar à missa, sentar-se nos primeiros bancos e depois ter de ficar em pé, no fundo da Igreja, quantos compromissos perdidos pelo medo de ser “descoberto e, assim ficava à margem de tudo!
Até meu primeiro namoro, com uma jovem que era muitíssimo educada, fina, de família tradicional, tive de encerrar, e é lógico, com uma desculpa que nada tinha a ver com o problema central, o tal do famigerado odor.
Em compensação, agradeço a Deus a ventura de ter passado por isso, logo no início de minha caminhada profissional.
Trabalhava como um tipo de “carteiro”, na Prefeitura, e o serviço mais difícil era a entrega de plantas nas construções de casas, prédios etc., pois só existia o nome da rua, sem o número e, às vezes, precisa andar do começo ao final para encontrar o destinatário.
Os outros mirins, espertos pra caramba, diziam sempre que não tinham encontrado tal endereço, e o que acontecia? Sobrava tudo na minha vez para entregar.
Aí veio o suspiro de Deus: “Filho, faça tudo sempre perfeito, mesmo que não seja seu dever, pois as pessoas irão admirá-lo e amá-lo por isso”. Resultado, no dia seguinte os meninos só tinham as correspondências que lhe cabiam para entregar, pois eu já havia solucionado suas pendências.
As missões que me chegavam, por mais simples que fossem, eram cumpridas com muito amor, e com esse senso que latejava sempre na minha mente: “Faça bem feito, seja diferente, as pessoas vão te tolerar por isso”.
Jamais, em momento algum, uma pessoa sequer, por mais tempo que ficasse em sua companhia, deixou transparecer que tinham de suportar aquela situação constrangedora.
Essa lição de fazer diferente, graças a esse sentimento negativo, levei para minha vida inteira, sempre quis ser o primeiro em tudo, e só não fui mais brilhante graças à minha limitação intelectual.
E o porquê desse tema? Abordá-lo após mais de 60 anos?
Tenho certeza de que há pessoas passando por problemas semelhantes, sem que possam alterar essa sua condição “negativa” num mundo cada dia mais competitivo e cruel.
Por isso quero aqui deixar duas lições, para amenizar esse sofrimento que martiriza grande número de seres humanos – que carregam consigo o tal do complexo de inferioridade.
Se você tem algo parecido, passa por um sufoco de não poder largar tudo e sumir no mundo – pois essa é a vontade que dá na pessoa portadora de qualquer sentimento de menosprezo-, faça disso a razão de seu viver, mostre o seu verdadeiro valor, não tenha nunca preguiça de ir até o fundo do poço para encontrar a solução de problemas que lhe tragam, e deixe que Deus, no momento certo, irá livrá-lo desse mal.
Às pessoas que convivem com um ser humano nesta condição, um apelo: Não tenha medo de ser sincero, diga o problema a essa pessoa, e o mais importante, coloque-se verdadeiramente à disposição para eliminá-lo, nem que isso lhe custe fortunas em dinheiro.
No meu caso, soube tirar proveito e fiz de um limão azedo, uma limonada super doce, com muito gelo, como a degustá-la num dia de muito calor – além de me refrescar tornou-me num ser especial aos olhos de DEUS.
Mas, você que compartilha com alguém que vive numa situação dessa, repito, tem o dever de transformar uma experiência amarga, naquele momento, numa vida de alegria e prosperidade a esse semelhante infeliz.
Melhor do que se sentir corresponsável pelo suicídio de seu melhor amigo…
PS: Enquanto escrevia este artigo, também preparava o tema de todas as segundas-feiras no meu perfil do Facebook, contando a história da música “Alone Again Naturally”, que tem tudo a ver, ouça-a, clicando no link abaixo: