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O pequeno cético no Natal – Por Ronaldo Ruiz Galdino

Desde muito criança eu demonstrava que iria desenvolver, no futuro, um ceticismo complicado. Lembrei-me hoje de uma das vezes que tive um desses primeiros sinais.

Era Natal. Eu deveria ter uns sete anos de idade. Acordei bem cedo. Saltei da cama e corri até a porta da cozinha, onde, na noite anterior, tinha colocado meu chinelo para o Papai Noel deixar um presente.

E lá estava um pacote embrulhado em um bonito papel dos Flinstones. Quando eu o peguei, minha mãe entrou na cozinha.

— Olha, esse Papai Noel não falha, hem?! — disse ela. Abre o seu presente.

— Mãe, como o Papai Noel entrou aqui em casa se a gente não tem chaminé? — perguntei.

— Ah, ele deve ter arrancado uma telha. Vai! Abre o presente!

— Mas ele ia fazer um barulhão. E como ele passou por um buraco tão pequeno? Ele é muito gordinho.

— O Papai Noel consegue, sim. Agora, abre o presente.

— Mãe, como o Papai Noel entrega todos os presentes para as crianças do mundo inteiro em uma noite só? Tem muitas crianças no mundo.

— Ele é muito rápido. Abre esse negócio logo.

Como percebi que minha mãe estava começando a perder a paciência, abri o embrulho do presente e encontrei um carrinho de Fórmula 1, parecido com o do Ayrton Senna, cheirando a plástico novo. Fiquei extremamente alegre com a surpresa.

Mas, de repente, parei de dar pulinhos de felicidade e fiquei calado, olhando debaixo do carrinho.

— Mãe…

— Ih, lá vem…

— A senhora me disse que os presentes do Papai Noel são feitos por duendes em uma fábrica no Polo Norte, não foi?

— Sim, é verdade.

— Então por que está escrito aqui: fabricado no Brasil?

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