fbpx
Os caras da rua de trás – Por Ronaldo Ruiz Galdino

Acho que todo cara deve ter tido, quando menino, uma turma de amigos na sua rua. 

E essa turma, em qualquer lugar do mundo, tem sempre uma turma de inimigos: os caras da rua de trás. 

Não importa qual a real localização geográfica da sua rua: os seus rivais sempre serão os caras da rua de trás. 

Ou seja, os caras da rua de trás também chamam a sua turma de “os caras da rua de trás”. 

A rua de trás da rua São Paulo, onde eu morava em Birigui, era a rua Manoel Domingos Ventura. 

A gente vivia no mesmo bairro. A casa de alguns dos nossos adversários fazia fundo com a nossa. Frequentávamos a mesma igreja, a mesma escola. Mas eles eram nossos rivais. 

Isso já era uma forma de demonstrar, ainda que de maneira microcósmica e infantil, que os seres humanos adoram uma divisão. 

Mesmo assim, a gente jogava juntos futebol e videogame (a locadora ficava, infelizmente, na rua de trás), Porém, era sempre uma rua contra a outra. 

Muitas vezes nós caíamos na porrada com os caras da rua de trás. Eu mesmo tinha um grande inimigo lá. 
Por outro lado, curiosamente, os meninos das outras ruas eram nossos amigos.

Um dos nossos camaradas, certa vez, começou a namorar a irmã de um dos meninos da rua de trás. Parecia um amor impossível, tipo Romeu e Julieta. No entanto, até que durou bastante.  

Era o começo do fim da nossa infância e da guerra entre as duas ruas. 

Hoje, eu costumo passar pela rua de trás, à noite, voltando do trabalho. As luzes das varandas estão apagadas e o silêncio reina. 

Muitos dos caras da rua de trás já não moram mais ali. Atualmente, eles são calçadistas, comerciantes, microempresários, pais de família. 

Alguns se tornaram meus amigos, daqueles que a gente quase não vê, mas que ainda assim são grandes amigos.
Outros nunca mais encontrei, nem ouvi notícias. Entretanto, confesso que eles deixaram grande saudade.  

Compartilhe esta notícia com seus amigos
error: Compartilhe através do link!