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Dois Por Cem… – Por Nalberto Vedovotto

Somos atolados até o pescoço por conta dos preconceitos de todo tipo, e um dos principais é olharmos para os pobres, moradores de rua e mendigos, como se ali estivesse a escória da sociedade.

Se não se irrita com a cena que vou descrever, parabéns, você é uma pessoa de alto valor, cujos princípios básicos são aqueles ensinados por Jesus, por ocasião de sua passagem pela terra.

O roteiro é o seguinte: Você chega ao semáforo, o sinal está vermelho. Pára e à sua frente existe (geralmente um casal) molambento, fazendo ginástica, cuspindo fogo, ou simplesmente com uma placa à mão, com os dizeres mais ou menos assim: “Sou venezuelano, precisei fugir de meu país, e não tenho nada para comer”.

Creio que a maioria dos motoristas torce para aquele infeliz esquecer que o sinal abriu, para “dar no pé”, sair imediatamente dali sem ser “importunado”.

Esse é um comportamento considerado até civilizado, sem contar os mais insensíveis, que passam a agredir verbalmente aquele seu irmão que se encontra no “bico do corvo”.

Temos a cultura de achar que só os bonitinhos, cheirosos e bem-vestidos são pessoas do bem, honestas, que nunca dão o “calote” em ninguém, enquanto essa outra “raça” é tratada como se fora um estorvo, deveria ser banida da sociedade, por causar aversão social, graças aos seus trejeitos.

Vez ou outra, somos pegos de surpresa com atitudes radicais de grupos neo-fascistas, cuja intenção de fazer a “depuração do meio ambiente”, ateiam fogo nesses andarilhos e ou moradores de rua, que se transformam em tochas humanas.

Vou contar um caso que aconteceu recentemente comigo.

Tenho por norma andar com moedas ou cédulas de valores baixos na carteira, e nunca nego uma ajuda, pode ser criança, adulto ou idoso.

Já tive financeiramente melhor na minha vida, principalmente quando estava na ativa, prestando meus serviços ao mundo corporativo. AÍ, ganhei o “grande prêmio” – aposentar-me –, resumindo, voltei a vivenciar uma situação de quase dependência total do estado, pois se quiser ter acesso à medicina privada, comprar medicamentos caros, é necessário fazer a tal roleta russa de débitos– ver quem vai ficar sem receber num determinado mês.

É como dizia um parente próximo: “Rapaz, eu estou tão mal financeiramente, mas tão mal, que sequer tenho um pardal para dar água!”.

Mas, voltando ao “causo” que aconteceu comigo.

Saí de casa com uma quantia para fazer algumas compras solicitadas pela “patroa”. A carteira parecia não acreditar no que via: notas de R$ 50,00 e R$ 100,00. Deve ter pensado: “Esse meu amo entrou para o cangaço urbano, não é possível, há quanto tempo não via uma garoupa dessa!”.

Ao parar numa esquina, uma senhora simpática, bem trajada, estendeu a mão. Sem olhar o valor da cédula, a tirei da carteira e fiz a doação.

Ao finalizar a compra, o caixa do estabelecimento disse o quanto eu devia pagar pelos produtos. Abri a dita carteira, e busquei pela nota de R$ 100,00. Começou a bater um desespero, pois não estava ali. Refiz mentalmente todo o trajeto, liguei para a esposa para saber se não havia caído no quintal, e nada.

Lembrei daquela senhora. Na minha cabeça havia sacado uma nota de R$ 2,00 reais para fazer minha “boa ação”. Pensei, será que não me confundi e entreguei uma nota de R$ 100,00?

Envergonhado, deixei as compras sobre o balcão e pedi um tempo para o caixa.

Voltei ao local onde aquela senhora estava. Expliquei a situação, e qual não foi minha surpresa, lá no fundinho de sua bolsa a nota de R$100,00, dobrada da mesma forma que eu a tinha entregado.

Imediatamente ela me devolveu. Saí dali completamente consciente de que devia eliminar qualquer preconceito que ainda pudesse existir na minha alma.

Eu sei que você poderá dizer. Pô, que cara “muquirana”, não podia deixar a quantia para a senhora que fora tão honesta?

Não vou te dar a resposta agora, esperarei seu julgamento quando você se aposentar e receber mensalmente a “fortuna” que chega todos os meses, via  INSS…

Fica frio, esse dia maravilhoso, inesquecível, vai chegar…

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