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Uma volta no quarteirão – Por Ronaldo Ruiz Galdino

Para mim, ir à padaria tem sido mais do que atender a uma necessidade. Essa é uma das formas que encontrei para tentar interagir com os moradores do bairro para o qual me mudei há quase um ano.

Tenho também ido ao mercadinho, à horta comunitária comprar verduras, ao bar e até estou pensando em ir à missa no domingo, só para ver se faço novos amigos.

Dei uma volta no quarteirão dia desses, voltando da padaria, e vi muitas pessoas desconhecidas no caminho. Tentei procurar algum rosto familiar nelas, mas não encontrei nenhum. Por outro lado, parece que todas elas se conhecem há décadas.

Reparei nas casas — são muitas para apenas uma quadra — e busquei nelas semelhanças com as residências do bairro em que vivi por cerca de trinta anos. Mas os imóveis daqui são novos, compactos, nada parecidos com as cinquentenárias moradias do meu antigo bairro.

Olhei para dentro dessas casas e tentei imaginar como devia ser a vida de quem mora nelas, já que tenho certa timidez para puxar papo com alguém e descobrir. Na calçada, um idoso sentado em uma cadeira de área conversa com naturalidade com outro senhor de bicicleta. É a primeira vez que vejo os dois, apesar de passar ali praticamente todos os dias.

“Só gente estranha”, pensei.  Mas não. Não, não, não. Na verdade, o forasteiro aqui sou eu. Continuo morando na mesma cidade, só mudei de bairro, e ainda assim me sinto um estrangeiro. Sei que estou sendo dramático, mas o que posso fazer? Não é à toa que decidi ser escritor.

Sentir-me deslocado sempre foi algo comum na minha vida, especialmente, quando era mais novo, e já falei também em outra crônica como me sentia desconfortável com mudanças. É inevitável. O medo do desconhecido é o mais forte dos medos humanos, dizia H. P. Lovecraft.

No outro bairro, eu era um daqueles que conhece todo mundo. A paisagem de lá me provocava o bem-estar da familiaridade.

Finalmente, cheguei em casa e tranquei a porta. O vapor que saía do saco de pão aqueceu minha mão do friozinho do início do outono. Ainda sinto a esperança de voltar da padaria algum dia após cumprimentar todo mundo calorosamente.

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