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Você Teria Coragem? – Por Nalberto Vedovotto

Pensa na seguinte cena:

Entro numa funerária da cidade e noto duas pessoas sentadas próximas.

Como o horrendo dificultador de leitura facial (máscara) ainda está em vigor, imaginei conhecê-las, mas fui precavido, esperei pelo atendimento delas e, ao saírem, pedi para que abaixassem a vestimenta universal, para o devido reconhecimento.

Que sorte, eram quem eu imaginara!

Uma delas, embora não tenha convivência pessoal, sabia de quem se tratava, pois infelizmente passa por um momento significativo na sua existência.

Com câncer em órgãos vitais, visivelmente debilitada, apesar de sua fé inabalável em Deus, parece que já entregou seu futuro nas mãos do Criador, sem qualquer esperança de cura.

A acompanhante – na expressão da palavra -, pois essa era a sua “missão” (depois confirmada confidencialmente), trata-se de uma jovem com forte vivência social na comunidade, presta-se sempre à ajuda de seu semelhante. Era isso o que fazia naquele momento, dando suporte à amiga.

Cumprimentei-as, conversamos rapidamente, e saí para receber o atendimento que esperava. Ambas se locomoveram para uma sala reservada, que fica ao lado esquerdo da entrada principal do edifício.

Após fazer o que precisava ser feito, preparava-me para sair quando noto a “acompanhante” sozinha, sentada, muito comovida.

Indaguei da companheira, e ela gentilmente convidou-me para que a acompanhasse até a sala ao lado, onde fica o depósito de urnas funerárias.

Sem entender o motivo daquele passeio, perguntei-lhe: — Por que me trouxe até aqui?

Sem nada responder, apenas com um sinal, indicou onde se encontrava a amiga, a analisar urna a urna.

Juro, foi um choque cultural, jamais imaginei ver cena tão real e impactante  como aquela na minha vida – a própria pessoa a escolher com qual urna devia baixar à terra.

Um tsunami de pensamentos começou a invadir meu cérebro, diante da demonstração de fragilidade, que é a vida humana, um fio tão tênue, que mal dá para dimensionar esse interregno de tempo entre o nascimento e a morte.

Com a empatia à flor da pele, tentei experimentar a emoção daquela jovem senhora, que com coragem e naturalidade escolhia como seria sua “última morada” como um indivíduo.

Por mais que ficasse ali, quieto, cabisbaixo, não consegui compreender a grande dúvida que acompanha o homem e a mulher por milhões de anos: “De onde viemos, por que viemos, e para onde vamos?”.

Mas, uma verdade ficou clara a mim. Não devo ser mais a mesma pessoa que fui até então.

Tenho que aproveitar cada minuto da minha existência daqui em diante, para colocar-me ao dispor do meu semelhante, com o objetivo de deixar meu legado de utilidade, por minha passagem pela terra.

À cada dia, por mais difícil que seja, por conta de uma sociedade mercantilista, cuja principal característica esperada de um ser é a sua produtividade, vou tentar interpretar fato por fato nas minhas relações diárias, pesando minhas decisões sempre para o lado da justiça que Jesus nos deixou como herança.

Espero, ao mesmo tempo, que os que conviveram muitos anos ao meu lado entendam a brusca transformação, pois tive que jogar no lixo, para sempre, verdades que julgava dogmas a caracterizar o meu ser.

Não temerei, em momento algum, ser julgado como alienado, pusilânime e, por que não, até  covarde, porém, me sentirei feliz se sempre decidir pelo julgamento do que é correto por conta dos ensinamentos de Cristo, mesmo que para isso seja rotulado de “falso cristão”.

Não me incomodo, pois quem me julgará será ELE….

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