Marcos Costa: De Birigui para a Academia Contemporânea de Letras
Quando era aluno da escola pública Geracina de Menezes Sanches, no bairro São Conrado, em Birigui, Marcos Costa pediu no seu aniversário de 10 anos de idade presentes pouco comuns para uma criança. Ao invés de roupas ou brinquedos, Marcos quis ganhar somente materiais escolares. “Eu sempre gostei muito de escrever”, contou Marcos, que esteve na Flibi (Festival Literário de Birigui) de 2019, ministrando uma oficina sobre minicontos.
Com os cadernos e lápis que ganhou de aniversário, ele criou uma trilogia de histórias desenhadas e com alguns escritos, que ele nunca publicou. Um hábito que manteve por bastante tempo. Aos 15 anos, passou a escrever poemas, que também tinham como destino a gaveta.
Até o primeiro ano do ensino médio, Marcos estudou na escola pública. Depois, ele conseguiu uma bolsa de estudos para cursar o segundo e o terceiro ano em um colégio particular. Formado em Letras, as únicas publicações que ele tinha feito até então eram acadêmicas, como o livro “Semiótica e o Círculo de Bakthin”, pela Paco Editorial.
Porém, certo dia, Marcos ficou sabendo que a ACL (Academia Contemporânea de Letras) estava com inscrições abertas para novos membros e decidiu enviar seus poemas. “Como a inscrição era anônima eu pensei: se eu passar vergonha, ninguém vai saber”, disse Marcos. Para sua surpresa, acabou sendo selecionado para ser membro da ACL e teve sua obra publicada em uma antologia da academia, lançada recentemente na Bienal do Rio de Janeiro.
A editora Futurama gostou muito dos poemas do biriguiense e o convidou para publicar um livro inteiro seu. Foi dessa forma que surgiu “Trovoada – Poemas de Amor, Paixão e Desilusão”, uma reunião de poesias de Marcos que falam da primeira fase da adolescência, de amores e das primeiras experiências da vida.
“Como eu fiz Letras, li muito Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, e a gente fica sempre se perguntado se está naquele patamar. E assim a gente se esconde”, contou Marcos. Para se ter uma ideia, sua amiga Patrícia, que escreveu o posfácio de “Trovoada”, ficou surpresa ao descobrir que ele escrevia poemas.
ESCRITA
Atualmente, Marcos Costa é professor universitário e também dá aulas de português na rede municipal de ensino em São Paulo. O tempo percorrido de sua casa para o trabalho e do seu trabalho para casa é de três horas. Nesse intervalo, ele tem tempo para ler e escrever seus poemas. “Não é um ócio. É um ócio criativo”, classificou.
Seu processo de escrita começa com um trecho que lhe vem à mente. Por isso, Marcos sempre anda com um caderno para anotar essas passagens que surgem de maneira inusitada. “Preciso anotar, porque o trecho pode passar e nunca mais voltar”, comentou. A partir desse fragmento, vem todo o resto do poema. Raramente ele muda alguma coisa no texto.
Marcos contou ao DN1 que, recentemente, quando visitou o cemitério da Recoleta, em Buenos Aires, sentou-se em um banquinho e, por conta da carga histórica que permeia o ambiente daquele lugar, escreveu um poema inteiro dedicado a Evita Perón – atriz e líder política argentina, que se tornou primeira-dama quando o general Juan Domingo Perón foi eleito presidente. Esse poema será publicado em uma antologia.
Segundo Marcos, muitas pessoas sentem um quê do niilismo do filósofo alemão Nietzsche em seus poemas. Ele explicou que isso acontece porque uma de suas influências é o escritor russo Dostoievski, uma das leituras favoritas do autor de “Assim Falou Zaratustra”. O mestrado de Marcos, aliás, foi sobre Dostoievski. Além de questionamentos existenciais, os poemas de Marcos também são narrativos.
Em “Trovoada”, o escritor biriguiense publicou 48 dos 120 poemas que escreveu até o momento. Ele está preparando um novo livro com poesias mais voltadas para sua vida adulta e aos atuais tempos conturbados. Essa publicação deverá sair no próximo ano.
Como também é psicanalista, Marcos está estudando para escrever sobre as patologias que estão surgindo por conta dos excessos do mundo digital. Uma delas é a “síndrome do toque fantasma”, que acontece quando a pessoa está sem o celular, mas ainda sente que está com o aparelho. Ou quando escuta um toque semelhante ao seu e pega o telefone, mesmo sabendo que ele está no silencioso.
Outro sintoma do mundo digital que está sendo analisado por Marcos é a nomofobia, que surge quando uma pessoa esquece o celular em casa ou quando acaba a bateria do aparelho e ela sente que o dia ficou horrível, passa a suar e sentir calafrios. “Eu quero estudar como a internet tem impactado a saúde das pessoas”, afirmou Marcos.
A literatura como forma de mudar a vida das pessoas
A escritora, professora e presidente da ACL (Academia Contemporânea de Letras), Marly de Souza Carrasco de Almeida, disse que um dos objetivos da entidade é levar a literatura para as pessoas, como uma forma de abrir mentes e mudar perspectivas de vida. Ela também esteve na Flibi (Festival Literário de Birigui) de 2019, ministrando a oficina de minicontos.
Sua experiência como professora mostrou que a literatura tem esse poder. “Trabalhei muitos anos em escola pública e a gente via que os alunos não tinham muitas perspectivas. A literatura mexe com os sentimentos e, trabalhando com ela em sala de aula, a gente percebe que os estudantes vão mudando um pouco a forma de pensar”, disse Marly.
A ACL também reúne escritores para discutir literatura e escrita, visando melhorar a escrita dentro da literatura, bem como preservar a língua portuguesa. Atualmente, a academia tem quase 50 membros, sendo que 23 deles estão em São Paulo e o restante espalhados por várias partes do País. Existem correspondentes em diversos Estados e também no estrangeiro: em Portugal, na Inglaterra e no continente africano.
Para se tornar um membro da ACL, o currículo do candidato é analisado por uma diretoria consultiva, que vai avaliar se ele se encaixa dentro da proposta da academia. Segundo Marly, a ACL é uma academia literária, portanto, todos os que tiverem interesse em participar devem ter algum vínculo com a escrita.
Marly está terminando seu nono livro. Ela já publicou quatro deles. O primeiro é uma coletânea para agradar a todos os gostos literários “Para onde o vento levar”, que reúne, poemas, contos e crônicas. A segunda e terceira obras “#Tagarelando em Prosa e Verso” e “Revelando Emoções” seguiram a mesma linha.
Porém, cada uma delas tem uma característica específica. “Para onde o vento levar” é mais filosófico. Já “#Tagarelando em Prosa e Verso” tem poemas concretos e “Revelando Emoções” traz microcontos infantis e algumas poesias.
O livro mais recente da autora é “Roubaram a Trança da Princesa Aixa”, uma história de príncipes negros. “É um projeto de inclusão, baseado na igualdade racial”, explicou Marly. A obra foi lançada na Bienal do Livro do Rio de Janeiro e deve também ser lançada em São Paulo em breve.