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Vá Lamber Sabão! – Por Nalberto Vedovotto

Certa feita, ao passar de carro por determinada praça na minha cidade, ouvi uma pessoa gritar: “Aí, seu velho, vovô”.

Curioso, diminui a velocidade, e pelo retrovisor percebi tratar-se de uma jovenzinha, devia ter lá seus 17, 18 anos. Na hora, confesso, fiquei muito puto.

Hoje, ao abrir o Facebook, como o faço diariamente, notei a postagem de uma das pessoas que tenho como amigos na plataforma, uma jovem senhora, de 57 anos, de biquini, na praia, ao escrever mais ou menos isso: “Sei que muitos irão me criticar pelo fato de ir de biquini à praia, com uns quilos a mais. Preferiam uma garota de 25 anos. Acontece que também já tive meus 25 anos, fui magra, linda, desejada por muitos. Portanto, hoje sou o que essas jovens de 25 anos serão daqui a três décadas!”.

Debrucei-me sobre os dois fatos, para refletlir a respeito.

Quando jovem, (você que já foi jovem vai entender isso), temos o desejo da tal “autoafirmação”. Queremos ser o primeiro em tudo: na sala de aula, ante o sexo oposto; no trabalho, concorrendo com os colegas; na Igreja, ser o líder do Movimento de Jovens; nas competições esportivas o número um no pódio; e nas discussões em grupo, aquele que dará a palavra final e inquestionável.

Está errado isso? Não sei, mas que é assim, é!

Começam a aparecer os fios de cabelos brancos. Os valores se alteram, a expectativa do primeiro lugar em tudo desaparece, a barriga cresce, os movimentos do corpo não obedecem aos comandos do cérebro, as pessoas o chamam de “senhor”, você lê “reservado para idosos” por todos os lados, e os “ditos mais jovens” o julgam como um idiota, que não sabe mais pensar, fazer contas, ou mesmo que não deve ser ouvido numa confraternização familiar – você nem começa a dizer uma frase e é cortado sem quaisquer cerimônias.

Faz parte, como diria um amigo mais ponderado!

É nesse momento que você testa a sabedoria acumulada em toda a vida.

Tem duas alternativas a tomar quando defrontado numa condição desrespeitosa, ao ser rotulado de “velho”, “cabeça branca”, “vovô”.

A primeira, esquecer todas as expertises, agir como fazia ainda jovem, achar que deve dar “o troco”, mostrar que só envelheceu na idade, que a inteligência, o bom senso, a liberdade merecem respeito, partir para uma contraofensiva, e ao final, arrependido, pensar em pedir desculpas ao interlocutor.

A segunda, muito mais difícil, digo quase impossível é, antes de uma resposta, viajar consigo mesmo pelo tempo, mirar-se na figura do “opositor”, e chegar à conclusão: “Esse era eu ontem!”.

No mínimo, terá o tempo suficiente para a pausa: segundos, minutos, até a pessoa te despertar do “sono” reparador de colocar-se em empatia, para não repetir os mesmos erros dela.

Fico a imaginar quantos erros, atitudes ignorantes, e falta de humildade vivenciadas nos meus tempos de pré-adolescência, adolescência e, por que não dizer, também na fase adulta.

Se pudesse voltar ao tempo jamais as cometeria de novo. 

Hoje, com mais de sete décadas nas costas, valorizo cada palavra que ouço, exemplos positivos que vejo, lições de amor dadas pelo nosso irmão ao lado, e mesmo diante de um fato que envolva discussão acirrada, com vozes alteradas de todos os lados, tento encontrar o equilíbrio para ser a serenidade e o equilíbrio nos relacionamentos.

Ante a verdade da brevidade da vida, que só levaremos no caixão os atos de bondade e caridade que praticarmos, que a presença das pessoas no momento sagrado de elevação da alma, medirá o quanto representei a cada um, é uma obrigação de agora, ser a melhor versão de mim mesmo, caso deseje um lugar melhor na eternidade.

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