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Rua São Paulo F.C. – Por Ronaldo Ruiz Galdino

Provavelmente, quase ninguém sabe que o terreno onde hoje está o prédio do Biriguiprev foi um dia a casa do glorioso time Rua São Paulo Futebol Clube. Tiagão, Tiago, Marcinho, Dedê e este cronista – a maioria com menos de dez anos de idade – eram algumas estrelas de ouro do escrete ruasãopaulino dos anos 90 – que, aliás, ainda devem se lembrar desse campinho de futebol. 

Pensando bem, campinho era um nome inadequado para o estádio do Rua São Paulo F.C. Mato era a única coisa que não havia ali. Tinha muita terra, pedras e cacos de vidro, isso sim. Os outros times não gostavam de jogar na nossa casa porque o conhecimento do terreno era a nossa vantagem. Preferiam seus estádios: alguma ladeira, calçada ou quadra de escola (a gente tinha que pular o muro, pois as escolas estavam fechadas no horário das nossas partidas).

Nossa arena (ninguém chamava estádio de futebol assim naquela época) ficava em um velho parquinho abandonado, sem alambrado de um lado, com apenas uns balanços enferrujados e ferros do que um dia foi uma gangorra. Em todas as partidas, realizadas pela 10ª divisão do futebol de várzea, eu fazia questão de desenhar nosso símbolo na terra, atrás de um dos gols, que eram sinalizados por dois pedaços de madeira. 

O estádio, que nunca foi batizado, tinha árvores enormes que ofereciam uma sombra deliciosa e alguns degraus que serviam de arquibancada. Fomos campeões várias vezes, mas não me lembro de termos subido para a 9ª divisão do futebol de várzea algum dia. Não tínhamos um “jogo de camisas”, então, vestíamos qualquer camiseta verde para servir de uniforme. A cor era para consolar os palmeirenses que tinham que jogar em um clube cujo nome lembrava o tricolor paulista – time do coração da maioria dos atletas do Rua São Paulo F.C. Incluindo aí o meu. O verde nos deu o apelido de “os abacates da rua São Paulo”.  

Nosso principal adversário eram os moleques da rua de trás. Geralmente, nesse clássico rolava muita pancadaria, uma vez que o Marcinho não gostava muito de provocação. 

Sempre fui um perna-de-pau, por isso, o Chico, nosso Telê Santana, me escalava como zagueiro em todos os jogos. Os caras reclamavam que eu ficava andando pelo campo e não levava as partidas a sério, fazendo palhaçadas. Um dia descobri que tinha sido demitido do time. O Didi não aguenta divididas, eles disseram. Colocaram no clube um monte de ex-jogadores do time da rua de trás. Alta traição!

Porém, levei a marca Rua São Paulo F.C. comigo. O outro time eu batizei de “Babacas do Bairro”. Sei que na ata de fundação desse timinho tinha um artigo que dizia assim: “Se o Ronaldo voltar, o time passa a se chamar imediatamente Rua São Paulo F.C. de novo”. Infelizmente, não encontrei ninguém para jogar comigo e os “abacates da rua São Paulo” chegaram ao fim. Aposentei-me do futebol aos 16 anos quando uma galera riu ao me ver jogando. 

Mas nunca vou me esquecer do único gol que fiz pelo Rua São Paulo F.C. Eu estava quase dentro do gol. Tiago cobrou o escanteio, a bola bateu na minha coxa e entrou. Comemorei muito, agradecendo aos céus com um sinal da cruz, já que eu não tinha aliança para beijar. 

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